O Passado do Presente - 1º Prémio Prosa Concurso Literário 2009/2010

O Passado do Presente

Os dias passam e o tempo não pára. O vento acaricia a aurora de mais um novo dia, de mais uma longa viagem que tem de percorrer à volta das searas cor do sol, das ramagens campestres e até do azul celeste do céu, tal e qual como se fosse um ilustre quadro pintado com todos os sabores, com todos os aromas, com todos os sentidos e com todas as vivências. O seu sopro pairava nas mais belas flores que pareciam alfinetes de cores no campo da virtude, no campo da imaginação, no campo da perfeição irreal que habitava num coração liberto como as asas que voam para o infinito, sem destino aparente, voavam pela descoberta da ânsia e herança dada pelos deuses, o desassombro.

A tarde que se enlaça na mordomia do pôr-do-sol deseja querer atingir o seu fim… não consegue porque a vida que existe para além do fim é demais. A vida tornou-se na melodia que o orgulho embalava à sua passagem nocturna. Em contraponto a morte, fria e cruel, é um adormecer para sempre onde a fantasia de um sonho é iluminada. É um ponto final no meio de tantos finais. É a intensidade de um verbo conjugado em todos os tempos efémeros, mas que se tornam recordações distintas, no bater de cada coração, na contracção de cada sentimento, na arritmia de cada momento, no respirar profundo de um animal selvagem em terras de ninguém, nas mãos de si, de tudo o que é e de tudo o que sempre foi. Ao deslizar neste campo descubro os mil e uns segredos dos sonhos que me fazem completar o meu diário de poemas que se tornam por fim inacabáveis e compostos por versos irreformáveis que crescem em mim, neste medo de explorar cada canto deste espaço, em cada ponte onde corre o meu cansaço por águas ténues mas que absorvem dentro de si tanto. Tanto do que sou ou que do que pretendo ser. Dai-me asas… quero voar! Abandonada nesta essência de seres inexploráveis, do mais puro que já vi nesta sequência de cenas em que o “corta” nunca existirá, nem quero que prevaleça. As cores alaranjadas atravessam o fim do superior alento… o astro põem-se nas almas das colinas. As nuvens chegaram… hoje não deixaram avistar o corpo celeste prateado que toma conta do meu pranto, nem as estrelas que emanam luz própria que fazem brilhar o meu espírito. Ofereci o meu pranto às nuvens, e aí gota a gota desfizeram-se em pedaços mil que contribuíram para o meu silêncio.

A noite tornou-se distante e assustadora. A dança da chuva caía nos arvoredos, nas flores, nas rochas... as palavras ficaram trancadas. As folhas, essas perderam-se. As flores morreram, e as pétalas antes que tudo desembarcasse, desembarcaram elas com a sua descolagem lenta e singela, como tanto nos prometeram. O amor no meu peito é fugaz… está para morrer. Será que este acto ou efeito de sentir surgirá num novo amanhecer e tudo se voltará a repetir na mesma canção? Sim… a mágica canção que palpita e faz palpitar este meu coração.

Alice Amorim - 12º B

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