CONFISSÃO
As lágrimas caem como a chuva em pleno inverno que molham o meu corpo. Fluem como as veias do mundo. Eu sou assim. Apenas água. Harmoniosa e mortal. Inconstante. Neste planeta, apenas flutuo. Espero que as marés me levem até ao meu destino. Um dia serei a Terra, serei a beleza do horizonte que aprecio desde criança.
Um dia serei nada.
Por ora vivo. Por isso sou um louco.
De tudo o que eu fiz, tudo o que disse, não passa de água, escura e imunda. Como os meus olhos. Que um dia hão-de secar.
Por ora vivo. Por isso sou um louco.
De tudo o que eu fiz, tudo o que disse, não passa de água, escura e imunda. Como os meus olhos. Que um dia hão-de secar.
Em criança tive um sonho. Mas que sonho era esse?
Tão puro como uma nascente, à beira do precipício.
Tão puro como uma nascente, à beira do precipício.
Sou um mendigo, sempre fui. Tão vazio e tão
cheio de nada.
Condenar-me-ão por ter existido?
Condenar-me-ão por ter existido?
Sou cego e sou surdo.
Permaneço em silêncio abraçado à minha alma vaga...
Permaneço em silêncio abraçado à minha alma vaga...
Emergindo da minha impureza,
A vela apaga-se,
A vida expira.
Os pecados viram poeira.
Fechar os olhos.
É este o fim?
A vela apaga-se,
A vida expira.
Os pecados viram poeira.
Fechar os olhos.
É este o fim?
Flutuo agora sobre a água,
Sangue derramado.
O que será de mim?
Sangue derramado.
O que será de mim?
Respirando o fumo,
Em forma pura,
A voz muda.
A partir de agora,
O silêncio gritará?
Em forma pura,
A voz muda.
A partir de agora,
O silêncio gritará?
Naquela noite, observava os cortinados a
dançarem com o vento, suavemente. Encontrei-me naquele momento. E valorizei o
pouco que tinha. Levei-o comigo. Num quarto tão escuro, iluminado apenas pela
luz da lua que passava por entre as persianas. Ela dormia do meu lado. Esquecia
que um dia não serei nada, porque hoje sou um tudo. E nos braços dela, isolado
do mundo, sinto-me no seu ventre de criação.
Observava as linhas do seu rosto, perfumadas
pela escuridão. Beijando a sua mão. Porque serei, amanhã, cinzas.
Lara Martins é aluna do 9ºB da Escola Básica e Secundária Francisco Simões. Com apenas 14 anos, viu o seu primeiro texto publicado em livro (Confissões), numa coletânea de vários autores que a Lua de Marfim trouxe a público no passado dia 20 de setembro. Dotada de uma escrita maravilhosa, Lara encanta quem a ouve e quem a lê, pela sensibilidade das palavras, pela espontaneidade dos sentimentos, pela fluência e riqueza do seu vocabulário. Aluna que se diz motivada para as artes, é na escrita que ela desvenda o seu mundo oculto e que se dá a conhecer como é.
Parabéns à Lara e esperemos que novos textos seus venham a ser conhecidos do público. Um beijinho da professora de Português, partilhado por todos os meus colegas que te conhecem! :)
Mª Lurdes Trilho
Parabéns à Lara e esperemos que novos textos seus venham a ser conhecidos do público. Um beijinho da professora de Português, partilhado por todos os meus colegas que te conhecem! :)
Mª Lurdes Trilho
Um exemplo para todos os alunos amantes da escrita, mas a quem uma certa dose de insegurança impossibilita levar avante os seus projetos. O exemplo da Lara pode ser seguido por ti também. Se gostas de escrever, fala com a tua professora de Português.
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